16 novembro, 2012


Relato sobre participação no I SEMINÁRIO ESTADUAL PIBID DO PARANÁ: o impacto na Educação Básica.
Bolsista: Maiara Pereira Barros

Nos dias 24 e 25 de agosto fomos a Ponta Grossa para participar do I Seminário Estadual PIBID do Paraná, que foi realizado pelo UEPG juntamente com as demais Instituições de ensino superior do Paraná que participam do Projeto Institucional de Iniciação a Docência – PIBID e têm ao longe desses dois anos de projeto atendidos as escolas publicas de Educação Básica.  A aspiração do evento foi compilar cruzar, confrontar e somar experiências e analises de cada coletivo que contribui com o referido projeto. De tal modo a participação se deu de bolsistas a supervisores cada qual trazendo para as Mesas de Conversas, GT’s, Exposição apresentação de pôster suas experiências e apreensões sobre o recebimento das mesmas. Avaliar o trabalho e o resultado do PIBID dentro das escolas foi o principal intuito do evento, o qual creio ter alcançado grande êxito. 
O trabalho apresentado pela presente bolsista fazia reflexões sobre a necessidade de um ensino que leve em consideração as especificidades de cada instituição de ensino, que se atentem as particularidades do publico atendido pelo professor e o entenda como parte ativa da produção do conhecimento. Tal exposição contribui de forma considerável para o grupo de exposição por somar-se a vários outros relatos que traziam a experiência de ação para inserção do aluno no processo de produção do conhecimento ou apontamentos que se casam com o já referido. A participação no evento foi extremamente positiva por haver um dialogo entre todas as áreas de conhecimento, o que contribui para uma efetiva compreensão da situação atual da educação básica e do trabalho desenvolvido nos projetos que se dividiam basicamente em trabalhos voltados somente a pensar a experiência docência e outros que buscavam uma ação mais política, indo além da sala de aula e contribuindo também para melhoria da realidade escolar. 
Segue  relato apresentado durante o evento:


EXPERIÊNCIA DOCENTE COM A JUVENTUDE DE MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO, UM RELATO SOCIOLÓGICO.
Maiara Pereira Barros
Coordenador: Marco Antonio Arantes
Projeto PIBID: Vivenciando a Escola: Incentivo à prática Docente Subprojeto de Sociologia “Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.”

INTRODUÇÃO

A Sociologia além de uma disciplina curricular da educação básica é uma forma de análise e desvelamento da realidade, a qual oportuniza o individuo reconhecer a si, ao outro e o contexto social do qual comungam. Podendo ir além de uma abstração teórica, sendo capaz de orientar uma prática e ser fomento de uma mudança social.
Pautados nisso o coletivo do PIBID de Sociologia, Unioeste-Toledo busca ir além dos muros da escola tradicional, se propondo a interação e ação em espaços diferenciados que possibilitem ao futuro licenciado em Ciências Sociais uma abrangente formação e atuação intelectual e cultural.
A construção do presente relato se  propõe a compartilhar a experiência docente junto a  juventude do campo que compõe o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST, Paraná, que realizam seu ensino básico no Instituto Técnico de Educação e Pesquisa da Reforma Agrária- ITEPA, da cidade São Miguel do Iguaçu, traçando alguns apontamentos sobre esse contexto educacional especifico.

OBJETIVOS

             O MST se apresenta como um dos únicos movimentos sociais brasileiros ainda combativos.  Sendo sua construção histórica fruto e expressão da contradição da sociedade capitalista em que vivemos. 
No mesmo processo em que o movimento pauta suas lutas ele também desvela e expõe problemas sociais que afetam a sociedade em geral, não somente a categoria que o mesmo representa. 
A proposta de ensino apresentada pela instituição com a qual entrei em contato, o ITEPA, é uma articulação entre uma política publica educacional da classe hegemônica e um espaço de formação atores políticos que apresentam um projeto de sociedade especifico e oposto a hegemônica. 
O objetivo da presente exposição é apontar como a construção histórico-social dessa proposta e espaço diferenciado de ensino, se dá por dependência e reflexo do desenvolvimento econômico do brasileiro. E a característica de um ensino “diferenciado” é resultante de conseguir alcançar, mais do que no ensino tradicional, uma articulação entre trabalho e educação, com olhos para um projeto de educação emancipatoria.

METODOLOGIA

A aula ministrada no ITEPA tratava sobre o conceito de Renda da Terra, para isso foram disponibilizadas duas tardes e uma manhã para trabalhar com os alunos. Pude portanto ficar em contato efetivo com essa proposta de ensino na prática, durante dois dias. 
Assim aliada a essa experiência de campo realizei leituras a cerca da constituição do movimento popular em questão, da instituição, da proposta de ensino, bem como retomei algumas leituras e conhecimentos já adquiridos, dentro do espaço de estudo do PIBID a cerca da temática educação, suas leis, diretrizes e construção histórica. Realizando a partir da confluência desses conhecimentos uma abordagem inicial sobre educação no campo, caso específico Instituto Técnico de Educação e Pesquisa da Reforma Agrária- ITEPA, da cidade São Miguel do Iguaçu- Paraná.

RESULTADO

Quando por volta da década de 80 os movimentos sociais do campo iniciam mais assiduamente sua luta por políticas publicam educacionais especificas, levantam também a própria constituição do sistema educacional brasileiro que é marcada pela consolidação do projeto da sociedade capitalista, como explica Ribeiro (1991). Isso encaminha a conquista das políticas publicas educacionais para o campo em direção e interdependência do desenvolvimento do capital. 
A aprovação das modificações feitas nas Leis de Diretrizes e Bases – LDB, em 1996 trazem consigo a principal prerrogativa que fornecerá subsídio constitucional para larga ampliação e defesa do ensino técnico: “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe formação comum para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. 
Essa prerrogativa, aliada ao contexto social de desenvolvimento da época, que buscava a reestruturação e incorporação de novas forças produtivas para a organização do trabalho, levam a criação de algumas políticas publicas direcionadas ao campo, porém como coloca Aparecida do Carmo Lima, em seu artigo sobre política educacional no campo, “as instituições que propuseram algumas atividades para atender a estas populações estruturaram ações articuladas à divisão social do trabalho e, particularmente, à consolidação de uma educação diferenciada para os que pensam e os que executam, cuja dimensão ainda não foi superada.”
Essa educação que expressa a divisão social do trabalho foi amplamente desenvolvida e se consolidou no ensino em geral. Porém dentro de um movimento popular que busca uma autonomia de ação, uma efetiva articulação entre trabalho e educação, ela não atendida ao projeto de educação proposto e pautado pelo movimento e trazia á tona à dicotomia entre cidade e campo, entre domínio técnico e força de trabalho, assim respectivamente. 
A tomada de ação por parte da população afetada foi exigir uma política publica que levasse em consideração as especificidades culturais desses atores sociais, seus anseios, necessidades e apreensões da realidade. Rompendo também com a visão imposta sobre o campo como um lugar de negócio e representação de indivíduos que só fazem uso da força de trabalho, não necessitando de uma formação intelectual e humana total. 
Caldart  expõe sobre a mobilização dos movimentos sociais pela educação no campo da seguinte forma:

“(...) por uma política educacional para as comunidades camponesas (...) 
precisando tomar posição no confronto de projetos de campo: contra a lógica do campo como lugar de negócio,  na afirmação da lógica da produção para a  
sustentação da vida em suas diferentes dimensões, necessidades, formas” 
(CALDART, 2008, p. 72)

Explicita assim, como a luta popular dos movimentos sociais do campo esta amplamente atrelada e aliada com um projeto de sociedade mais igualitária e justa. Suas ações se apresentaram como forma de exposição de problemas sociais oriundos da contradição do sistema econômico atual, tornando-se assim formas de resistência e embate a ele. Pois além de lutarem por direitos garantidos constitucionalmente que não são atendidos, reivindicam outros ainda a serem conquistados.

CONCLUSÃO

A turma com a qual trabalhei é composta por dezoito jovens, homens e mulheres, lideranças políticas em formação dentro de seus assentamentos. Eles têm origens de distintas localidades, sendo que cada assentamento do Paraná tem representatividade na turma de no máximo três pessoas. 
O ensino oferecido pelo instituto faz a junção entre técnico e médio, tendo duração de três anos. Sendo que o período que os alunos passam na instituição, são de três meses corridos, em regime de internato, realizam um intervalo de três, tempo que retornam a seus assentamentos de origem e depois voltam ao instituto para mais três meses de aula e assim sucessivamente. Este regime de estudos tem gênese na preocupação entre educação e trabalho, teoria e prática. Todos esses jovens tem como exigência repassar e aplicar durante o período que estão nos assentamentos o conhecimento que constroem dentro do instituto. 
O projeto político pedagógico que os atende busca não só na abstração, mas também na prática, como pude presenciar uma formação humana ampliada. Que vai desde a parte teórica, técnica à dimensão das artes e da própria cultura por eles compartilhada.
A implantação e sucesso de um projeto educacional que atende a uma formação humana emancipatória e universal se faz extremamente difícil na atualidade.  Porém o caso exposto traz indicativos que essa formação mais ampliada se constrói pautada primeiramente na resposta as especificidades de cada espaço social, atrelada a necessidade de um contraponto à educação tradicional, uma análise que se proponha a apontar problemas e forma de melhoria da mesma. Processo que pode ser iniciado na sala de aula através da sociologia.


REFERÊNCIAS

RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira: a organização escolar. 3. ed. São Paulo: Moraes. 1981.
__________; Lima, Aparecida do C; Noma, Amélia K. Politica educacional no campo espaço de ação do movimento dos trabalhadores rurais sem terra no Brasil. http://www.educacao.ufrj.br/artigos/n8/numero813

Nenhum comentário:

Postar um comentário