28 novembro, 2012

Dominó Sociológico


Nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto do presente ano estive envolvida na produção de um jogo didático denominado “Dominó Sociológico”, a ideia inicial era formar um jogo para que os alunos relacionassem, com ajuda do livro didático, conceitos de Estado e autores da Ciências Sociais, neste primeiro momento o jogo contava com seis peças, que continham as seguintes  autores:
1.    Karl Marx: O Estado é uma instituição necessária ao capitalismo, pois garante as condições necessárias para este modo de produção. Assim, o Estado representa os interesses da classe dominante, no caso a burguesia, sendo denominado também como o “Comitê executivo da burguesia”.
2.    Max Weber: O Estado é apenas mais uma das instituições burocráticas da sociedade. Se configurando a partir da relação de homens dominando outros homens, tal dominação pode ser de três formas: legal, tradicional e carismática. Neste sentido, o Estado é a instituição burocrática que tem o poder legitimo de uso da força, ou seja, a única que pode, legalmente, usar da coerção.
3.    Émilie Durkheim: O Estado é uma organização fundamental para manter a coesão social, e, está acima de qualquer outra organização. Assim, a essência do Estado é representar e atender aos interesses coletivos.
4.    Michel Foucault: Define o Estado não a partir de suas relações com a sociedade, mas a partir de elementos cotidianos, assim,  o Estado é uma instituição da “sociedade disciplinar” . Ou seja, assim como as outras instituições (família, escola, religião,...) tem como função, vigiar e punir para adestrar os indivíduos a disciplina desejada. Tal processo se inicia com a Revolução Industrial, onde os indivíduos passam a ser moldados para responder as demandas da sociedade capitalista, sendo a fábrica o primeiro espaço de adestramento.
5.    Gilles Deleuze: Atualmente, a sociedade deixou de estabelecer relações disciplinares, e passou a se organizar como uma “sociedade de controle” onde os indivíduos são meros consumidores, sendo que as relações de compra e venda se encontram em diversos âmbitos. Assim, não é necessário vigiar os indivíduos estes são controlados pelas relações de consumo.
6.    Adam Przeworski; Robert Dahl; Joseph Schumpeter; Giovani Sartori entre outros: Um Estado é efetivamente democrático quando respeita certos aspectos institucionais, tais como: eleições livres, “limpas” e competitivas; garantia de liberdades civis e direitos políticos, entre outros aspectos.
O teste deste modelo foi executado em uma das regências por mim aplicada referente à disciplina Prática de Estágio Supervisionado II, no Colégio Estadual Novo Horizonte, com o terceiro ano noturno. Com ela percebi a dificuldade em se construir o conceito desta forma, pois mesmo com o livro didático em mãos, e a breve explicação que dei no início, a dificuldade interpretativa de alguns faz com que eles não conseguissem efetivar as ligações entre autor e conceito.
Neste momento o foco do material foi alterado e passei a elaborar um jogo avaliativo, que depende de um bimestre de aulas para que seja executado. Com esta iniciativa foi possível aumentar o número de peças para a quantia do jogo original, 24 peças as quais contém informações que já foram abordadas em aulas anteriores. Este novo modelo de jogo tem como objetivo analisar qualitativamente a apreensão dos alunos sobre o conteúdo estudado, a fim de abordar os diferentes conceitos e autores que foram estudados na unidade, bem como compreender sobre as diferentes formas que o Estado pode tomar – por exemplo, autoritarismo, democracia, monarquia. Discutir os aspectos que diferenciam as formas do Estado, articulando a realidade brasileira e compreender como e porque cada autor define o Estado de maneira diferente. 

Sugere-se que nas aulas preparatórias para o jogo, seja solicitado aos alunos que façam anotações em seus cadernos, pois este será o material de apoio dos grupos no dia jogo. Uma dinâmica interessante para iniciar o conteúdo é apresentar  que ele abarca temas referentes a vertente de Ciência Política, e construir uma linha do tempo, para demonstrar como surge a ideia de Estado, apresentar o conceito de contrato social, demonstrar que o Estado se organizou, foi governado e teve diferentes processos de legitimação ao longo dos anos. 
Após esta aula conceitos como Estado, tipos de regime, formas de legitimação, entre outros, serão abordados novamente, procurando sempre retomar a linha do tempo, exemplificar e trazer para o mundo dos alunos. É interessante que dinâmicas diferentes sejam abordadas, como por exemplo, uso de imagens, filmes, musicas.
Após os temas serem abordados nas aulas preparatórias no dia do jogo divide-se a turma em grupos, em um número divisível por 24, e aconselha-se levar os alunos para um espaço aberto e sentar no chão com eles. Depois de divididos em grupos e com as peças do dominó separadas entre eles, faz se um sorteio para decidir que time coloca a primeira peça. A partir da peça inicial, os alunos, com a ajuda do professor, vão fazendo as ligações, ganhando pontos em cada acerto. Neste sentido, o professor tem um papel de mediador – investigador no jogo. Conforme as peças vão aparecendo ele vai pedindo aos grupos o que eles sabem sobre aquele conceito ou autor, e se algum grupo acredita ter a peça que se liga naquela, se por acaso algum grupo desviar do conceito correto, o professor deve levá-lo, por meio da discussão, ao conceito certo. A pontuação serve para que o jogo possa acabar, mesmo que as peças não tenham acabado, devido ao tempo da aula, entretanto, ele pode ser aplicado até o fim, de maneira que sempre, o vencedor será o grupo que fizer mais pontos. O  conteúdo das peças ficou o seguinte:
1.    Um regime é autoritário quando: Regime com forte hierarquização, onde uma pequena oligarquia, geralmente ligada ao exército, tem o domínio do poder através da coerção, perseguição e tortura de quem o contraria além da ausência de diretos sociais e políticos;
2.    O Estado moderno é: É uma instituição que surge com o fim do feudalismo e reaparecimento do comércio, se consolidando com as Revoluções Burguesas.
3.    Práticas que permeiam o sistema político brasileiro: Práticas coronelistas e clientelistas relacionadas à política, principalmente no quesito voto.
4.    Émile Durkheim: O Estado é uma organização fundamental para manter a coesão social, e, está acima de qualquer outra organização. Assim, a essência do Estado é representar e atender aos interesses coletivos.
5.    Um regime é absolutista quando: É um regime onde o poder do governante é absoluto, sendo ele a representação do Estado. Portanto existe forte hierarquização, e seu poder é medido pela quantia de riquezas.
6.    É a maneira como Estados totalitários e autoritários se legitimam: Por meio da coerção física e moral, ou seja, através do medo e da tortura
7.    .Max Weber: O Estado é apenas mais uma das instituições burocráticas da sociedade. Se configurando a partir da relação de homens dominando outros homens, tal dominação pode ser de três formas: legal, tradicional e carismática. Neste sentido, o Estado é a instituição burocrática que tem o poder legitimo de uso da força, ou seja, a única que pode, legalmente, usar da coerção.
8.    Um regime é totalitário quando: É um regime de forte hierarquia e suspensão de todos os direitos, fundamentais, políticos e sociais, personificando-se em uma pessoa que detém todo poder: executivo, legislativo, militar.
9.    É a maneira como um Estado democrático se legitima: Eleições livres, limpas e competitivas onde a população escolhe os seus representantes no sistema político.
10. São temas abordados pela Ciência Política: Formação e configuração do Estado, tipos de regimes políticos, formas de dominação e o conceito de poder.
11. Alain Touraine; Carole Pateman – análises culturais da democracia: Um Estado é efetivamente democrático quando além de respeitar os aspectos institucionais, reflete em sua cultura um comportamento democrático, no sentido de respeitar a diversidade social e cultural.
12. São exemplos de regimes totalitários: Nazismo na Alemanha; Fascismo na Itália, Stronismo no Paraguai.
13. É a maneira como os Estados absolutos se legitimam: Através da tradição, onde o poder é passado de pai para filho, os quais são representantes Divinos na terra.
14. Adam Przeworski; Robert Dahl; Joseph Schumpeter – análises institucionais da democracia: Um Estado é efetivamente democrático quando respeita certos aspectos institucionais, tais como: eleições livres, “limpas” e competitivas, garantia de liberdades civis e direitos políticos, entre outros aspectos. Concepção institucionalista da democracia.
15. Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”, ou seja, a natureza humana é má, a sociedade o controla.
16. São exemplos de regimes absolutos: São regimes que se esgotaram com as emergências dos direitos políticos, por exemplo, as monarquias absolutas dos séculos XVI e XVII.
17. Nicolau Maquiavel: Foi o primeiro teórico a pensar como o Estado é, e não como deveria ser analisando o mesmo a partir do ponto de vista dos governantes. É considerado o pai da Ciência Política.
18. São exemplos de regimes democráticos: Presidencialismo, caso do Brasil atual e Parlamentarismo caso da Inglaterra.
19.  Michel Foucault: Define o Estado não a partir de suas relações com a sociedade, mas a partir de elementos cotidianos, assim, o Estado é uma instituição da “sociedade disciplinar” . Ou seja, assim como as outras instituições (família, escola, religião,...) têm como função, vigiar e punir para adestrar os indivíduos à disciplina desejada. Tal processo se inicia com a Revolução Industrial, onde os indivíduos passam a ser moldados para responder as demandas da sociedade capitalista, sendo a fábrica o primeiro espaço de adestramento.
20. São exemplos de regimes autoritários: A ditadura burocrática militar brasileira, (1964- 1985), assim como todas as ditaduras latinas do mesmo período.
21. Teóricos Contratualistas ( Jean – Jacques Rosseau, Thomas Hobbes, John Locke, Charles de Montesquieu): O Estado é uma instituição que surge a partir de um Contrato Social, onde os indivíduos abrem mão de suas liberdades individuais pela segurança de viver em grupo.
22. Gilles Deleuze: Atualmente, a sociedade deixou de estabelecer relações disciplinares, e passou a se organizar como uma sociedade de controle” onde os indivíduos são meros consumidores, sendo que as relações de compra e venda se encontram em diversos âmbitos. Assim, não é necessário vigiar os indivíduos, pois estes são controlados pelas relações de consumo.
23. Jean-Jacques Rosseau: O homem em sua natureza é bom, a sociedade é quem o corrompe.
24.  Karl Marx: O Estado é uma instituição necessária ao capitalismo, pois garante as condições necessárias para este modo de produção. Assim, o Estado representa os interesses da classe dominante, no caso a burguesia, sendo denominado também como o “Comitê executivo da burguesia”.

Foto das peças do "Dominó Sociológico".

Bolsista: Jaqueline Resmini Hansen

2 comentários:

  1. Extremamente instigante e criativo a partir do uso intensivo de imaginação sociológica! Parabéns ao grupo!

    Lígia Eras

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