Nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto do presente ano estive envolvida na produção de um jogo didático denominado “Dominó Sociológico”, a ideia inicial era formar um jogo para que os alunos relacionassem, com ajuda do livro didático, conceitos de Estado e autores da Ciências Sociais, neste primeiro momento o jogo contava com seis peças, que continham as seguintes autores:
1.
Karl
Marx:
O Estado é uma instituição necessária ao capitalismo, pois garante as condições
necessárias para este modo de produção. Assim, o Estado representa os
interesses da classe dominante, no caso a burguesia, sendo denominado também
como o “Comitê executivo da burguesia”.
2.
Max
Weber: O Estado é apenas mais uma das instituições burocráticas
da sociedade. Se configurando a partir da relação de homens dominando outros
homens, tal dominação pode ser de três formas: legal, tradicional e
carismática. Neste sentido, o Estado é a instituição burocrática que tem o
poder legitimo de uso da força, ou seja, a única que pode, legalmente, usar da
coerção.
3.
Émilie
Durkheim: O Estado é uma organização fundamental para manter a coesão social, e, está acima de qualquer
outra organização. Assim, a essência do Estado é representar e atender aos
interesses coletivos.
4.
Michel
Foucault: Define o Estado não a partir de suas relações com a
sociedade, mas a partir de elementos cotidianos, assim, o Estado é uma instituição da “sociedade disciplinar” . Ou seja, assim
como as outras instituições (família, escola, religião,...) tem como função,
vigiar e punir para adestrar os indivíduos a disciplina desejada. Tal processo
se inicia com a Revolução Industrial, onde os indivíduos passam a ser moldados
para responder as demandas da sociedade capitalista, sendo a fábrica o primeiro
espaço de adestramento.
5.
Gilles
Deleuze: Atualmente, a sociedade deixou de estabelecer relações
disciplinares, e passou a se organizar como uma “sociedade de controle” onde os indivíduos são meros consumidores,
sendo que as relações de compra e venda se encontram em diversos âmbitos.
Assim, não é necessário vigiar os indivíduos estes são controlados pelas
relações de consumo.
6. Adam Przeworski; Robert Dahl; Joseph
Schumpeter; Giovani Sartori entre outros: Um Estado é
efetivamente democrático quando respeita certos aspectos institucionais, tais
como: eleições livres, “limpas” e competitivas; garantia de liberdades civis e
direitos políticos, entre outros aspectos.
O teste deste modelo foi executado em uma das regências
por mim aplicada referente à disciplina Prática de Estágio Supervisionado II,
no Colégio Estadual Novo Horizonte, com o terceiro ano noturno. Com ela percebi
a dificuldade em se construir o conceito desta forma, pois mesmo com o livro
didático em mãos, e a breve explicação que dei no início, a dificuldade
interpretativa de alguns faz com que eles não conseguissem efetivar as ligações
entre autor e conceito.
Neste momento o foco do material foi alterado e passei a
elaborar um jogo avaliativo, que depende de um bimestre de aulas para que seja
executado. Com esta iniciativa foi possível aumentar o número de peças para a
quantia do jogo original, 24 peças as quais contém informações que já foram
abordadas em aulas anteriores. Este novo modelo de jogo tem como objetivo
analisar qualitativamente a apreensão dos alunos sobre o conteúdo estudado, a
fim de abordar os diferentes conceitos e autores que foram estudados na
unidade, bem como compreender sobre as diferentes formas que o Estado pode
tomar – por exemplo, autoritarismo, democracia, monarquia. Discutir os aspectos
que diferenciam as formas do Estado, articulando a realidade brasileira e
compreender como e porque cada autor define o Estado de maneira diferente.
Sugere-se que nas aulas preparatórias para o jogo, seja
solicitado aos alunos que façam anotações em seus cadernos, pois este será o
material de apoio dos grupos no dia jogo. Uma dinâmica interessante para
iniciar o conteúdo é apresentar que ele
abarca temas referentes a vertente de Ciência Política, e construir uma linha
do tempo, para demonstrar como surge a ideia de Estado, apresentar o conceito
de contrato social, demonstrar que o
Estado se organizou, foi governado e teve diferentes processos de legitimação
ao longo dos anos.
Após esta aula conceitos como Estado, tipos de regime,
formas de legitimação, entre outros, serão abordados novamente, procurando
sempre retomar a linha do tempo, exemplificar e trazer para o mundo dos alunos.
É interessante que dinâmicas diferentes sejam abordadas, como por exemplo, uso de imagens, filmes, musicas.
Após os temas serem abordados nas aulas preparatórias no
dia do jogo divide-se a turma em grupos, em um número divisível por 24, e
aconselha-se levar os alunos para um espaço aberto e sentar no chão com eles.
Depois de divididos em grupos e com as peças do dominó separadas entre eles,
faz se um sorteio para decidir que time coloca a primeira peça. A partir da
peça inicial, os alunos, com a ajuda do professor, vão fazendo as ligações,
ganhando pontos em cada acerto. Neste sentido, o professor tem um papel de
mediador – investigador no jogo. Conforme as peças vão aparecendo ele vai
pedindo aos grupos o que eles sabem sobre aquele conceito ou autor, e se algum
grupo acredita ter a peça que se liga naquela, se por acaso algum grupo desviar
do conceito correto, o professor deve levá-lo, por meio da discussão, ao
conceito certo. A pontuação serve para que o jogo possa acabar, mesmo que as
peças não tenham acabado, devido ao tempo da aula, entretanto, ele pode ser
aplicado até o fim, de maneira que sempre, o vencedor será o grupo que fizer
mais pontos. O conteúdo das peças ficou
o seguinte:
1. Um regime é autoritário quando: Regime com forte
hierarquização, onde uma pequena oligarquia, geralmente ligada ao exército, tem
o domínio do poder através da coerção, perseguição e tortura de quem o
contraria além da ausência de diretos sociais e políticos;
2. O Estado moderno é: É uma instituição que surge com o fim
do feudalismo e reaparecimento do comércio, se consolidando com as Revoluções
Burguesas.
3. Práticas que permeiam o sistema político brasileiro: Práticas
coronelistas e clientelistas relacionadas à política, principalmente no quesito
voto.
4. Émile Durkheim: O Estado é uma organização fundamental para
manter a coesão social, e, está acima
de qualquer outra organização. Assim, a essência do Estado é representar e
atender aos interesses coletivos.
5. Um regime é absolutista quando: É um regime onde o
poder do governante é absoluto, sendo ele a representação do Estado. Portanto
existe forte hierarquização, e seu poder é medido pela quantia de riquezas.
6. É a maneira como Estados totalitários e autoritários se
legitimam:
Por meio da coerção física e moral, ou seja, através do medo e da tortura
7. .Max Weber: O Estado é apenas mais uma das instituições
burocráticas da sociedade. Se configurando a partir da relação de homens
dominando outros homens, tal dominação pode ser de três formas: legal,
tradicional e carismática. Neste sentido, o Estado é a instituição burocrática
que tem o poder legitimo de uso da força, ou seja, a única que pode,
legalmente, usar da coerção.
8. Um regime é totalitário quando: É um regime de
forte hierarquia e suspensão de todos os direitos, fundamentais, políticos e
sociais, personificando-se em uma pessoa que detém todo poder: executivo,
legislativo, militar.
9. É a maneira como um Estado democrático se legitima: Eleições livres,
limpas e competitivas onde a população escolhe os seus representantes no
sistema político.
10. São temas abordados pela Ciência Política: Formação e
configuração do Estado, tipos de regimes políticos, formas de dominação e o
conceito de poder.
11. Alain Touraine; Carole Pateman – análises culturais da
democracia: Um
Estado é efetivamente democrático quando além de respeitar os aspectos
institucionais, reflete em sua cultura um comportamento democrático, no sentido
de respeitar a diversidade social e cultural.
12. São exemplos de regimes totalitários: Nazismo na Alemanha;
Fascismo na Itália, Stronismo no Paraguai.
13. É a maneira como os Estados absolutos se legitimam: Através da
tradição, onde o poder é passado de pai para filho, os quais são representantes
Divinos na terra.
14. Adam Przeworski; Robert Dahl; Joseph Schumpeter –
análises institucionais da democracia: Um Estado é efetivamente democrático quando
respeita certos aspectos institucionais, tais como: eleições livres, “limpas” e
competitivas, garantia de liberdades civis e direitos políticos, entre outros
aspectos. Concepção institucionalista da democracia.
15. Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”, ou seja, a
natureza humana é má, a sociedade o controla.
16. São exemplos de regimes absolutos: São regimes que se
esgotaram com as emergências dos direitos políticos, por exemplo, as monarquias
absolutas dos séculos XVI e XVII.
17. Nicolau Maquiavel: Foi o primeiro teórico a pensar como o
Estado é, e não como deveria ser analisando o mesmo a partir do ponto de vista
dos governantes. É considerado o pai da Ciência Política.
18. São exemplos de regimes democráticos: Presidencialismo,
caso do Brasil atual e Parlamentarismo caso da Inglaterra.
19. Michel Foucault: Define o Estado não
a partir de suas relações com a sociedade, mas a partir de elementos
cotidianos, assim, o Estado é uma instituição da “sociedade disciplinar” .
Ou seja, assim como as outras instituições (família, escola, religião,...) têm
como função, vigiar e punir para adestrar os indivíduos à disciplina desejada.
Tal processo se inicia com a Revolução Industrial, onde os indivíduos passam a
ser moldados para responder as demandas da sociedade capitalista, sendo a
fábrica o primeiro espaço de adestramento.
20. São exemplos de regimes autoritários: A ditadura
burocrática militar brasileira, (1964- 1985), assim como todas as ditaduras
latinas do mesmo período.
21. Teóricos Contratualistas ( Jean – Jacques Rosseau, Thomas
Hobbes, John Locke, Charles de Montesquieu): O Estado é uma instituição que surge a
partir de um Contrato Social, onde os indivíduos abrem mão de suas liberdades
individuais pela segurança de viver em grupo.
22. Gilles Deleuze: Atualmente, a sociedade deixou de
estabelecer relações disciplinares, e passou a se organizar como uma “sociedade
de controle” onde os indivíduos
são meros consumidores, sendo que as relações de compra e venda se encontram em
diversos âmbitos. Assim, não é necessário vigiar os indivíduos, pois estes são
controlados pelas relações de consumo.
23. Jean-Jacques Rosseau: O homem em sua natureza é bom, a
sociedade é quem o corrompe.
24.
Karl Marx: O Estado é uma instituição necessária
ao capitalismo, pois garante as condições necessárias para este modo de
produção. Assim, o Estado representa os interesses da classe dominante, no caso
a burguesia, sendo denominado também como o “Comitê executivo da burguesia”.
Foto das peças do "Dominó Sociológico".
Extremamente instigante e criativo a partir do uso intensivo de imaginação sociológica! Parabéns ao grupo!
ResponderExcluirLígia Eras
Muito bom e criativo!
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